POEMAS QUOTIDIANOS
Poeta da segunda geração do neo-realismo português, ligado à revista portuense Notícias do Bloqueio, António Reis afastou-se da dimensão retórica e declarativa de boa parte dos neo-realistas, preferindo o despojamento do verso, a emoção contida, o intimismo melancólico. Os poemas de Reis são sobre vidas comuns, marcadas pelo trabalho e a alienação, a fadiga e o descanso, o tédio e a solidão, os grandes medos e os pequenos prazeres, a dignidade e a opressão. Embora «quotidianos», estes textos escolhem certos objectos que observam de um modo, digamos, cinematográfico, e a partir deles edificam um «espaço interior» de indagação ética. Tomando «o partido das coisas» (à imagem de alguns poetas franceses do pós-guerra, como Ponge ou Guillevic), o poeta considera o jornal, a maçã, a camisa, a jarra, o maço de cigarros, o pente, e «arranca às coisas o que elas sabem a respeito do homem» (Gaëtan Picon). A penúria material e o sonambulismo da existência são assim gémeos da constância e da duração no tempo. E manifestam-se num fulgurante elogio da fraternidade e da conjugalidade. Pedro Mexia
- Editorial: Tinta da China |
- Ano: 2017 |
- Idioma: portugués |
- ISBN: 978-989-671-387-4 |